Imprensa Futuro Digital da Europa: da tecnologia ao fator humano

Artigos de Opinião | 29-10-2021 in Jornal Económico

Artigo de Opinião da Europdeputada Maria da Graça Carvalho no Jornal Económico:

"A transição digital é frequentemente comparada, em termos de impacto, à revolução industrial. E se alguma falha se pode encontrar nessa descrição é o facto de este salto tecnológico que atualmente vivemos estar a ser muito mais acelerado. O digital está em tudo. Na forma como comunicamos e interagimos. Nas administrações públicas e no posicionamento global das nações. Nos mercados, na forma como fazemos negócios e criamos novos modelos de negócios. E na transformação das estruturas da indústria.

De acordo com o Fórum Económico Mundial, 70% do novo valor criado na economia, na próxima década, será baseado em modelos de negócios de plataforma digitalmente habilitados. No espaço de algumas décadas, as tecnologias digitais evoluíram do ambiente académico no qual nasceram para um conjunto de ferramentas que moldam o mundo moderno. São essenciais em todos os estágios de investigação científica e inovação, da ciência fundamental às ciências aplicadas. Permitem-nos desenvolver materiais e produtos melhores e mais sustentáveis. Ajudam-nos a projetar as cidades do futuro, antecipar desastres naturais e lidar com crises de saúde, como a pandemia de COVID-19.

Estar na vanguarda dessa transição digital é essencial para todas as nações e regiões do mundo. Atualmente, porém, a UE está atrás dos Estados Unidos e da China nesta corrida. Um atraso motivado por investimentos inadequados e pela existência de barreiras políticas que nos conduzem ao excesso de burocracia e à falta de flexibilidade.

A Europa decidiu contrariar esse status quo, assumindo a ambição de liderar em vez de se debater para tentar acompanhar os outros. A digitalização é, a par do European Green Deal, um dos grandes pilares estratégicos da União Europeia (UE).  É essencial para o reforço da nossa soberania, a saúde do Mercado Interno, a competitividade da nossa indústria, para garantirmos empregos e qualidade de vida aos nossos cidadãos e para a própria evolução rumo a uma economia livre de CO2. Aliás, não é por acaso que falamos nas “transições gémeas”, verde e digital.

 

Para consubstanciar esta renovada ambição, várias medidas são necessárias. Desde logo, assegurar o investimento. Mas também apostando na investigação cientifica e na tecnologia, na implementação de infraestruturas digitais, pondo em prática a economia de dados e dando uma forte prioridade às competências digitais.   

O Programa Europa Digital ascende aos 7,5 mil milhões de euros. E fizemos também da digitalização um dos eixos fundamentais dos programas de recuperação e resiliência, nos quais representa mais de 20% do investimento.

Além, naturalmente, do peso muito significativo que esta área tem no programa-quadro de ciência e inovação, o Horizonte Europa. Nomeadamente através de três parcerias público-privadas de que fui relatora pelo Parlamento Europeu: A computação de Alto Desempenho (HPC), a qual contempla a instalação de um supercomputador em Portugal; a parceria sobre Tecnologias Digitais de Futuro, com enfâse nos microprocessadores; e parceria sobre Redes e Serviços Inteligentes, relativa à implementação e aplicação do 5 G e do 6G.

Portugal, infelizmente, mantém-se na cauda da Europa ao nível da implementação do 5G, e isso representa um problema grave ao nível da nossa competitividade presente e futura.

Igualmente importante é investir nas pessoas. Precisamos de melhorar as competências digitais de toda a nossa população e precisamos de ser capazes de treinar - e reter - especialistas altamente qualificados. Sem esse investimento, não teremos sucesso. Por mais que a tecnologia evolua, o fator humano ainda é, e sempre será, o elemento decisivo nesta equação"

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