Imprensa Polígrafo SIC: 1.400 golfinhos e baleias foram mortos nas ilhas da Dinamarca e a União Europeia não está a fazer nada?

Notícias | 27-09-2021 in SIC Notícias

A matança de golfinhos e baleias acontece todos os anos nas ilhas Faroé. Trata-se de uma tradição chamada de “grindadráp”. O objetivo é matar estes animais para o consumo pelos cidadãos da ilha da carne de golfinho e baleia.

Nas redes sociais, foram várias as publicações que partilharam as imagens sangrentas daquele que foi mais um abate de golfinhos e baleias nas ilhas Faroé da Dinamarca. A lei europeia proíbe a caça destes animais. Ora, considerando que a Dinamarca faz parte da União Europeia, as instituições europeias não estão a atuar?

A caçada foi amplamente noticiada. Apesar de se tratar de uma tradição que se repete todos os anos, desta vez, a dimensão do massacre foi maior do que o habitual. Mais de 1.400 golfinhos e baleias foram mortos, utilizando uma técnica apelidada de “grindadráp”, ou seja, foram encurralados com a ajuda de barcos, na praia de Skálabotnur, na ilha de Eysturoy (uma ilha do arquipélago de Faroé). A matança ocorreu a 12 de setembro. As imagens partilhadas pelo Sea Shepherd, um grupo de preservação de seres marítimos, mostram evento sangrento.

De acordo com a Agência France Presse, um porta-voz do governo de Torshavn - a capital das ilhas Faroé, um território da Dinamarca, mas autónomo – “não há dúvida de que a caça aos cetáceos nas ilhas Faroé é um espetáculo dramático para as pessoas pouco habituadas à caça e abate destes mamíferos. Estas caçadas são, no entanto, bem organizadas e totalmente reguladas”. A regulação serve para prevenir que estes animais sofram no momento do abate. Golfinhos e baleias-piloto (espécie de baleia) são mortos com a finalidade de serem consumidos pelos habitantes das ilhas.

Contudo, de acordo com o grupo Sea Shepherd a caçada foi feita sem licenças, não tendo sido comunicada ao departamento distrital. A organização explica que, como não havia muitas pessoas em terra, alguns destes animais foram atacados, mas permaneceram vivos com golpes graves e em sofrimento, até serem abatidos. À CNN Brasil, Kristian Petersen, de 41 anos, natural das ilhas Faroé, afirmou: “Eu também já participei na caçada. Desde que tenha sido apenas para comida, eu apoio. Mas esta recente caçada, no fim de semana, sou contra o que aconteceu.”

lei europeia sobre esta matéria é clara: “todas as espécies de baleias e outros cetáceos estão protegidos de serem perturbados deliberadamente, capturados ou mortos nas águas europeias”.

Mas no caso das ilhas Faroé esta lei não se aplica. Entre 2009 2021, vários eurodeputados escreveram à Comissão Europeia a apelar que atuasse para terminar com esta tradição. A resposta da Comissão tem sido sempre a mesma: “A comissão está empenhada na proteção de todos os cetáceos e gostaria de recordar que, na União Europeia, a captura ou morte de cetáceos é proibida pela Diretiva sobre os habitats. No entanto, o assunto em questão não é da jurisdição da União Europeia, uma vez que os Tratados não se aplicam às ilhas Faroé”. Mais: a Comissão frisa que nenhum fundo europeu está a servir para promover esta prática e que o governo dinamarquês não tem qualquer envolvimento.

No entanto, ao Polígrafo SIC/Europa, a eurodeputada Anja Hazekamp, do grupo Esquerda Unitária no Parlamento Europeu, contradiz a Comissão: “A Dinamarca permite estas caçadas. Esta complacência foi denunciada pelo grupo de preservação marinha Sea Shepherd”.

Sirpa Pietikäinen, eurodeputada do grupo do Partido Popular Europeu e presidente da Comissão para o bem-estar dos animais durante o transporte, confirma a denúncia da organização Sea Shepherd e diz que próximo passo da Comissão que preside será enviar uma carta diretamente ao governo dinamarquês. Ao Polígrafo SIC/Europa, a eurodeputada afirma que “a Comissão Europeia deve pedir respostas ao governo da Dinamarca e caso não obtenha apoio do Estado-membro, deve sancionar ou processar o país”.

Também a eurodeputada Maria da Graça Carvalho, da delegação do PSD no Parlamento Europeu e membro da Comissão das Pescas, declarou ao Polígrafo SIC/Europa que se a Comissão o desejasse poderia aplicar sanções. De acordo com a social-democrata, “existem acordos bilaterais em termos de pesca, de comércio, de ciência e inovação entre a União Europeia e as Ilhas Faroé. Por exemplo, estas gozaram até agora do estatuto de país associado no programa-quadro de ciência e inovação, o Horizonte 2020, e estão a negociar com a Comissão Europeia o estatuto de país associado ao Horizonte Europa. Portanto, a Comissão tem vários meios ao seu dispor para influenciar uma decisão por parte das Ilhas Faroé no sentido de porem termo a esta prática”.

A eurodeputada Isabel Estrada Carvalhais, da delegação do PS no Parlamento Europeu e membro da Comissão de Inquérito sobre a Proteção dos Animais durante o Transporte e das Pescas, afirmou ao Polígrafo SIC/Europa que “este último incidente resultou em mortes em massa, o que nos leva a questionar o argumento da Dinamarca e das Ilhas Faroé sobre a sustentabilidade destas ações, tanto a nível ambiental como também a nível social e económico. Considero por isso que é tempo de as instituições europeias descodificarem a quem pertence o ônus de uma vez por todas, para que se possa aplicar as devidas sanções e as medidas necessárias, através de todos os instrumentos disponíveis, para encorajar o fim de massacres como o deste ano”.

Já Francisco Guerreiro, eurodeputado independente e também membro da Comissão das Pescas, explicou ao Polígrafo SIC/Europa que “na sequência desta mais recente matança de golfinhos e baleias nas ilhas Faroé, um grupo de quase 60 eurodeputados, provenientes de todo o espetro político e de vários Estados-membros, enviou hoje (24 de setembro) uma pergunta escrita à Comissão, cuja resposta demorará agora algumas semanas a chegar. Nesta pergunta, encorajamos a Comissão Europeia a agir no sentido de, bilateralmente, tentar levar a que esta matança seja proibida, pois os animais em causa encontram-se em necessidade de proteção e a sua extinção não terá, obviamente, repercussões que se limitam à biodiversidade das ilhas Faroé”.

Posto isto, é falso que a União Europeia não esteja a fazer nada em relação às caçadas de golfinhos e baleias nas ilhas Faroé. Vários eurodeputados têm-se manifestado sobre o assunto, apelando à Comissão Europeia para tomar uma posição. No entanto, as ilhas Faroé não estão sob a jurisdição da lei europeia.

AVALIAÇÃO POLÍGRAFO SIC EUROPA: FALSO

 

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