Imprensa Editorial. Igualdade de género, tecnologia e presidência portuguesa num arranque de ano ainda muito condicionado pela pandemia

O ano de 2021 começou ainda marcado pela pandemia. Esta confirmou a necessidade de uma vacinação conjunta e eficaz em toda a UE. E evidenciou, pelo papel que as novas tecnologias assumiram, a urgência de uma transformação digital atenta aos avanços na Inteligência Artificial, com a tónica no tema da igualdade de género. Neste mês de janeiro, finalizei dois relatórios na área do conhecimento e tecnologia e outro relativo ao fosso de género no digital. Fui nomeada para novos relatórios e pareceres relacionados com temas da ciência e mercado interno digital, mantendo-me atenta às questões da pandemia e ao arranque da presidência portuguesa.

Quando entrei no Instituto Superior Técnico, há mais de três décadas, fui uma de duas mulheres a ingressar no curso de Engenharia Mecânica, entre cerca de uma centena de homens. Hoje, a realidade é diferente. Em Portugal, bem como na maioria dos países europeus, as mulheres afirmaram-se definitivamente no ensino superior, chegando mesmo a ser maioritárias em áreas como a Justiça, Medicina ou Ensino.

No entanto, em determinados setores, nomeadamente o das nas novas tecnologias, a sua representação continua aquém do desejável. As mulheres constituem apenas 17% dos inscritos em cursos da área das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC). E uma percentagem semelhante dos profissionais deste setor na União Europeia. Temos de trabalhar para alterar este status quo.

No final de janeiro o Parlamento Europeu aprovou, em sessão plenária, o meu relatório “Colmatar o fosso digital entre homens e mulheres - participação das mulheres na economia digital”. Neste apresento diferentes propostas, da educação ao mercado de trabalho e aos media, para que sejam ultrapassadas as atuais assimetrias de género.

Ainda na Comissão FEMM - Direitos das Mulheres e Igualdade de Género - tenho em mãos a diretiva “Women on Boards”, da Comissão Europeia, cuja aplicação há muito vem sendo adiada e que visa incentivar a presença de mais mulheres nos conselhos de administração das empresas em bolsa. Espero que a presidência portuguesa do Conselho da UE consiga agora, finalmente, fazer avançar este dossiê.

Ainda a propósito da presidência portuguesa, recebemos na Comissão ITRE – Indústria, Investigação e Energia os ministros da Ciência e Ensino Superior, Ambiente e Ação Climática Infraestruturas e Habitação e Economia e Transição Digital. O primeiro, Manuel Heitor, trouxe um discurso muito alinhado com as prioridades do Parlamento Europeu, de valorização do programa-quadro Horizonte Europa e das suas parcerias, nomeadamente a HPC, de Computação de Alto Desempenho, da qual sou relatora pelo Parlamento Europeu. Aos restantes ministros, face às diferenças entre o que é a experiência nacional e o que pretendem fazer na presidência, em áreas como a eficiência digital e o 5G, tive de pedir que façam melhor na Europa do que têm feito conseguido em Portugal.