Imprensa Uma mulher vítima de abusos já é demais

Artigos de Opinião | 09-03-2023 in Público

Em casos de violação, a maioria dos países da UE ainda exige prova de violência para apresentar uma acusação. Inacreditavelmente, no momento, o que é violação num país europeu não é violação noutro.

Artigo escrito em conjunto com Frances Fitzgerald.


As mulheres estão seguras na Europa? Em França, mais de 100 mulheres foram mortas pelos seus parceiros ou ex-companheiros em 2022. Em Espanha, nove mulheres foram mortas violentamente só em dezembro. Em Portugal, entre janeiro e novembro do ano passado, registaram-se 22 mortes de mulheres em contexto de violência doméstica. Na Irlanda, as estatísticas do Women's Aid mostram que 2022 foi o pior ano da década, com 11 mulheres mortas em circunstâncias violentas nos últimos 12 meses. Mesmo que se registasse apenas uma vítima, já seria demais. A Europa não pode tolerar isto.

Em todos os Estados-membros da UE, o público exige ação e os governos continuam a responder. Por exemplo, em 2021, a Grécia introduziu uma nova lei sobre "violência e assédio" no local de trabalho, em conformidade com a Convenção da Organização Internacional do Trabalho sobre violência e assédio. Também adaptou o seu código penal em matéria de violações, assédio sexual e menores.

Mas, embora as respostas individuais dos países da UE à violência e às consequências da violência sejam louváveis ​​- a França está a testar um novo esquema de apoio para ajudar as vítimas a procurarem segurança e reconstruírem as suas vidas e a Irlanda está a analisar extensas reformas nos tribunais de família - um problema central permanece: a violência contra as mulheres não respeita as fronteiras dos Estados-membros, pelo que, de facto, a segurança de uma mulher depende do local onde vive.

Em casos de violação, por exemplo, embora em oito países da UE o conceito de consentimento livre e genuíno tenha mudado a definição deste crime, a maioria dos países da UE ainda exige prova de violência para apresentar uma acusação. Resumindo, e inacreditavelmente, no momento, o que é violação num país europeu não é violação noutro.

Queremos corrigir esta anomalia vergonhosa. Embora as leis nacionais continuem a ser decididas pelos parlamentos nacionais, em relação à violência contra as mulheres, argumentamos que é hora de a UE estabelecer um padrão mínimo comum, como fizemos no caso do terrorismo. É por isso que estamos atualmente a trabalhar na primeira “lei da UE sobre o combate à violência contra as mulheres”. Um título longo para uma proposta simples, há muito necessária: assumir que violência é violência, e que violência contra as mulheres num país europeu deve ser tratada como violência contra mulheres e punida da mesma forma em todos os países europeus.

Baseando-se numa ampla consulta, a diretiva incluirá cinco elementos principais: estabelecer os mesmos padrões mínimos para crimes; segurança nos procedimentos de denúncia e de avaliação de risco; respeito pela privacidade das vítimas em processos judiciais e direito a indemnização; apoio às vítimas através de linhas de apoio e centros de crise; e uma melhor coordenação e cooperação entre os Estados-membros em matéria de crimes transfronteiriços.

Padrões de condenação comuns também demonstrariam o compromisso dos Estados-membros da UE em acabar com o que é, essencialmente, uma lotaria geográfica com a vida das mulheres a serem utilizadas como fichas de jogo.

Neste dia 8 de março assinalamos o Dia Internacional da Mulher. Mas enquanto nos regozijamos com as conquistas das mulheres em todo o mundo, vamos fazer uma promessa: quando se trata da segurança das mulheres, chega de lotaria geográfica. Vamos chegar a acordo sobre definições de violência contra as mulheres que abranjam toda a UE. Vamos garantir que não sejam mais as mulheres a sentirem-se inseguras, mas sim aqueles que praticam violência contra nós. Se fizermos isto, poderemos responder com confiança que sim, as mulheres estão seguras na Europa. Então, realmente teremos algo para comemorar.

 

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