Imprensa Já lhes chega?

Artigos de Opinião | 27-09-2023 in Diário de Notícias

"É por sermos moderados que não somos nem populistas nem ultraliberais e muito menos nos associaremos algum dia a qualquer política xenófoba ou racista (…) Se algum dia for confrontado com a violação dos nossos princípios e valores para formar ou suportar um Governo, o partido pode decidir o que quiser, mas não serei eu o líder de um Governo desses."

Estas afirmações foram feitas pelo então recém-eleito líder do PSD, Luís Montenegro, no Congresso do partido no Porto, a 3 de julho de 2022. E reforçadas pelo mesmo, bem como por vários outros elementos do partido, eu própria incluída, em inúmeras ocasiões depois disso. Se tivesse de fazer aqui uma lista exaustiva de momentos em que o PSD se demarcou do Chega, lista na qual teria naturalmente de incluir a anterior liderança do partido por Rui Rio, iria seguramente preencher várias páginas.

Seria de esperar que todos estes esclarecimentos tivessem sido suficientemente claros para dissipar as dúvidas. Mas não! Afinal, segundo pude ler e ouvir no rescaldo das eleições regionais da Madeira, parece que, segundo os especialistas, só agora - “após quinze meses”, segundo titulava esta terça-feira um jornal de referência - Luís Montenegro afastou definitivamente o cenário de um entendimento eleitoral ou pós-eleitoral com o Chega.

Isto sendo que tenho poucas dúvidas de que, por esta altura, algures num qualquer gabinete politico, alguém estará ainda a tentar magicar uma forma de retirar o carácter definitivo às afirmações do presidente do PSD, talvez especulando sobre o facto de este ter dito que não precisaria do Chega para governar.

Tudo isso é pouco sério, tudo isso é uma forma rasteira de fazer política, mas a verdade é que já todos nos apercebemos de que, à falta de méritos próprios para defender junto do eleitorado, a estratégia do PS – a mesma que adotou com sucesso em 2022 -  continuará a ser tentar convencer os portugueses de que não existe alternativa a si próprio para governar o país, e a agitar fantasmas assustadores, por mais desacreditados que estes tenham sido.

Mas essa estratégia sofreu um duro revés nas eleições regionais da Madeira, das quais podemos e devemos retirar ilações nacionais. Miguel Albuquerque assumiu claramente a recusa de entendimentos com o Chega. Coligou-se com o CDS-PP. Foi a votos. Ganhou confortavelmente e com todas as condições para formar um governo sólido, entendendo-se com outras forças políticas democráticas. O PS foi o grande derrotado da noite eleitoral, perdendo boa parte da sua representação no Parlamento Regional. Provou-se, assim, que é perfeitamente possível encontrar soluções governativas estáveis, no universo do chamado centro-direita, sem dar poder e protagonismo àqueles que não o devem ter.

O Chega, como alguém disse, foi irrelevante nas eleições da Madeira. E isso são boas notícias para a democracia, mas talvez não o sejam necessariamente para o PS, que se habituou a utilizar aquele partido como arma de arremesso e cortina de fumo para descentrar o debate dos temas que mais interessam aos portugueses, temas nos quais lhes continua a falhar de forma clamorosa.

O “trunfo” do bicho-papão não resultou para o PS na Madeira. E acredito que também não resultará nos diferentes atos eleitorais que se aproximam. O problema da aposta em estratégias baseadas em alarmismos e insinuações é que estas, mais cedo ou mais tarde, acabam por ser expostas pelo que realmente valem: nada. A verdade vem sempre à tona.

2. Uma breve nota final para o rescaldo de outras eleições, neste caso as espanholas, o qual continua a fazer-se mais de dois meses depois. Com o que aprendemos na última década, nós, portugueses, dificilmente nos surpreendemos com geringonças, por mais estapafúrdias que estas nos pareçam. Dificilmente nos surpreendemos com um cenário em que o partido mais votado não assume o poder ou é deste afastado. Mas um partido pretender governar um país com o apoio de forças políticas cujo projeto ideológico assenta na desagregação desse mesmo país é algo de novo, até para nós.

 

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