Imprensa Como conjugar a mobilidade de oito mil milhões com sustentabilidade

Artigos de Opinião | 16-11-2022 in Diário de Notícias

Nesta semana irei participar na Transport Research Arena, uma conferência internacional que decorre em Lisboa. É um evento de alto nível, talvez sem a notoriedade mediática de outros, mas que não lhes fica atrás em termos de importância. Em discussão está o futuro dos transportes e da mobilidade para a Europa e o Mundo. Um futuro ao qual está ligado aquele que é um dos temas mais importantes das nossas vidas na atualidade: o combate às alterações climáticas.

O mundo acaba de atingir os oito mil milhões de habitantes. É um número extraordinário quando pensamos que, no início do século XIX, nos primórdios da Revolução Industrial, éramos "apenas" mil milhões. O choque tecnológico que caracterizou esse longo período da nossa história está diretamente ligado à expansão acelerada da população mundial. Nomeadamente pelo que representou em termos de mobilidade e de transportes. Com a invenção do motor de combustão interna e outras inovações tecnológicas, surgiram os grandes navios de carga e de transporte de passageiros e as locomotivas, depois os automóveis e os aviões. Tudo isto nos permitiu fazer chegar pessoas e mercadorias mais longe e mais depressa. E esse tem sido um dos segredos do nosso sucesso.

Hoje, sabemos também que essa expansão teve um preço elevado, sob a forma de emissões de CO2 e outros gases nocivos para a nossa atmosfera que estão a afetar seriamente o equilíbrio natural do nosso planeta. O setor dos transportes é um dos principais responsáveis pelas emissões de gases com efeitos de estufa. E a tendência, com exceção de um retrocesso em 2020 ditado pela pandemia de covid-19, é de expansão. Porque, como vimos, cada vez há mais pessoas. Todas com a legítima aspiração de chegarem mais longe, mais depressa.

Se a chamada transição energética é condição essencial para um combate bem-sucedido às alterações climáticas, o setor dos transportes é provavelmente aquele que mais irá contribuir para o nosso sucesso ou insucesso. O desafio não é pequeno: precisamos não apenas de manter, mas de melhorar, a eficiência e competitividade deste setor, fazendo em simultâneo uma transição bem-sucedida da dependência de combustíveis fósseis para novas formas de mobilidade baseadas em energias sustentáveis e acessíveis.

Esta importância é reconhecida pela Lei do Clima, que traduz o Pacto Ecológico Europeu, bem como pelo pacote de iniciativas Fit-for-55, no qual estão discriminadas diversas medidas para descarbonizar a economia em setores como a indústria, produção de eletricidade, edifícios, agricultura e também os transportes.

Especificamente, neste último caso, através do compromisso para se deixarem der produzir automóveis de passageiros com motores de combustão interna até 2035, da redução gradual das emissões dos navios ou do uso de biocombustíveis avançados e de combustíveis sintéticos na aviação.

Num certo sentido, precisamos de uma nova "Revolução Industrial", baseada no conhecimento e na inovação. A União Europeia tem o maior Programa de Investigação Científica e Inovação do mundo no Horizonte Europa. Neste programa, especialmente no Pilar II, existem parcerias muito importantes, das quais fui relatora pelo Parlamento Europeu, em temas como aviação limpa, mobilidade rodoviária com emissões zero, ferrovia e hidrogénio. A chamada Economia Digital, sobretudo em frentes altamente inovadoras, como a robótica, a Inteligência Artificial e a chamada Internet das Coisas, terá também um contributo a dar neste campo.

Outra frente diz respeito às pessoas, à mudança dos comportamentos individuais e coletivos. Por exemplo, incentivado a compra de produtos produzidos localmente. Mas também, sobretudo, promovendo a escolha de novas formas, mais sustentáveis, de mobilidade. Isto não se consegue apenas com imposições legais e investimentos em redes de transporte público. Se queremos convencer os cidadãos a deixarem o automóvel em casa, temos de lhes oferecer soluções igualmente flexíveis e eficientes. E esse é um dos pontos em discussão nesta conferência em Lisboa.

 
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