Press A indústria europeia precisa de processos simples e de apoios concretos

Opinion Articles | 27-04-2022 in Diário de Notícias

A Comissão Europeia tem uma capacidade reconhecida para elaborar análises e desenhar projetos de grande qualidade, bem estruturados e fundamentados. Onde por vezes revela menor assertividade é na apresentação de soluções capazes de terem um impacto concreto nos desafios de curto prazo.

Na semana passada, na Comissão da Indústria, Investigação e Energia, no Parlamento Europeu, tivemos um exemplo disso mesmo, quando a diretora-geral do Mercado Interno, Indústria, Empreendedorismo e PME (DG GROW), Kerstin Jorna, falou aos deputados sobre a estratégia da Comissão para lidar com as consequências da guerra da Ucrânia na indústria europeia.

Na sua apresentação, após uma breve síntese dos setores mais afetados, a diretora-geral começou a descrever detalhadamente as linhas orientadoras para "ajudar as companhias a navegarem este ambiente incerto e em rápida mudança", as quais integrou numa estratégia a que chamou de "Três M" (de: Monitoring, Match e Remodel).

Ao fim de dez minutos, era claro para todos os presentes que a Comissão Europeia não estava a poupar esforços para reunir e cruzar indicadores vários sobre os impactos da guerra, bem como para ouvir e manter informadas todas as partes interessadas. Já em relação às ações, Kerstin Jorna trouxe muito pouco. Isto, excetuando algumas iniciativas bem-intencionadas, mas de alcance limitado no horizonte visível, como um fórum para as empresas discutirem soluções comuns para as cadeias de abastecimento ou um projeto da Aliança Europeia para as Matérias-Primas que, "se ativado, acelerado e executado", poderia reduzir a dependência externa da UE em alguns destes materiais.

É muito importante que a Comissão Europeia dedique tempo e recursos a avaliar a falta de acesso a determinados mercados.

Quando me coube questionar a diretora-geral, elogiei a qualidade do diagnóstico, lamentando a escassez de ilações práticas. E deixei duas propostas de ações rápidas de executar e de grande alcance, que o Partido Popular Europeu e eu própria vimos defendendo há já algum tempo: uma moratória sobre determinadas regras e regulamentos da UE que, sendo bons em tempos normais, estão nesta fase a gerar um peso burocrático insustentável sobre a indústria, e a aceleração do acesso a fundos europeus por determinados setores particularmente afetados. A resposta da senhora Jorna foi positiva, o que me leva a manter a esperança de que, numa apresentação futura, integre na sua lista um quarto "M", referente a "Medidas".

Para não ser mal interpretada, considero absolutamente essencial recolher toda a informação possível, principalmente junto das partes que estão a sentir na pele os efeitos da presente crise. De resto, foi isso mesmo que o Partido Popular Europeu fez nesta semana, numa iniciativa chamada EPP Industry Days, da qual tive o prazer de ser uma das anfitriãs. Mas no final do dia, como de resto ficou claro pela generalidade das intervenções nestes dois dias de debates, o que a indústria europeia espera dos decisores políticos são clareza e simplicidade nos procedimentos e apoios concretos para ultrapassar os problemas com que se debate. Não apenas apoios financeiros diretos, mas ao nível das infraestruturas, dos recursos humanos, do investimento em Ciência e Inovação.

É muito importante que a Comissão Europeia dedique tempo e recursos a avaliar a falta de acesso a determinados mercados e quebras nas cadeias de abastecimento, a constatar os efeitos em cadeia da alta dos preços da energia e até a refletir sobre os impactos específicos ao nível de recursos como o aço, os gases raros e os fertilizantes. Porque todos estes aspetos contribuem para a situação atual. Mas depois é preciso ser capaz de fazer uma avaliação transversal e agir rapidamente, dando prioridade às medidas com o potencial para gerar mais benefícios de forma mais imediata.

 

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