Press Mais mulheres em lugares executivos: “Finalmente conseguimos. É um resultado histórico”

News | 10-06-2022 in Público

O Conselho Europeu aprovou esta terça-feira a directiva “Women on Boards” que pretende reforçar a igualdade de género nos conselhos administrativos das grandes empresas. Com esta medida, as mulheres poderão agora ocupar 40% dos cargos não-executivos ou 33% dos cargos executivos e não-executivos no sector empresarial. “Tenho de confessar que não tinha muita esperança, mas finalmente conseguimos. É um resultado histórico”, garante ao PÚBLICO Maria da Graça Carvalho, eurodeputada do PSD e membro da Comissão dos Direitos das Mulheres e da Igualdade de Género, que acompanhou o processo enquanto relatora-sombra da iniciativa.

Desde que passou pelo Parlamento Europeu em 2013, o Conselho Europeu levou uma década a aprovar esta directiva. Porque é que os estados-membros mostraram resistência e como é chegaram a um consenso?
Houve um conjunto de situações favoráveis como uma evolução das mentalidades e o facto de ser cada vez mais claro que isto não é só uma questão de igualdade de género, mas também importante para a economia e a competitividade da Europa, que tem falta de talentos e está a desperdiçar metade da sua população. Alguns estados-membros, que até têm leis bastante mais ambiciosas do que esta directiva, consideravam que é uma ingerência em assuntos que são da competência dos estados-membros. Outros argumentavam que não era a altura certa porque havia uma crise, uma pandemia ou uma guerra. Houve uma série de exigências. Tivemos de negociar todas, uma a uma. Foi uma negociação difícil, mas conseguimos chegar a um acordo. E conseguimos incluir os 33% de lugares executivos, que não estavam na versão original e são muito importantes.


O que é que esta medida vai mudar na UE e em Portugal?
Em Portugal, não haverá grande diferença porque já temos 30% de mulheres nas administrações, mas, passando a existir uma directiva, tem outro peso. E mesmo que não tenha a ambição que nós gostávamos, a directiva pode ir sendo melhorada e à medida que atingirmos os objectivos, podemos aumentar a ambição. Foi um princípio muito importante criar uma directiva que, no fundo, obriga os estados-membros, quando não têm [mais de 30% de mulheres nas administrações], a terem, e quando têm, a continuarem esse caminho.

Na Comissão dos Direitos das Mulheres e da Igualdade de Género também se sentam eurodeputadas do PS e do PCP. Os diferentes partidos portugueses estiveram a favor da directiva?
Todos os grupos estiveram de acordo com a negociação final. Só os grupos mais à direita não se envolveram nas negociações.

Actualmente, 30,6% dos administradores das grandes empresas da UE são mulheres, segundo dados do Instituto Jacques Delors. Com esta directiva, estamos perante um aumento de cerca de 2%. Estas metas resolvem o problema da desigualdade de género no mercado de trabalho?
Isto é uma componente, mas é preciso fazer mais. Continua a existir um fosso salarial entre as mulheres e os homens. É preciso continuar a atrair as mulheres para as carreiras que são mais necessárias na Europa, como as áreas da energia e do digital, que são dominadas por homens. Depois, temos outro problema: não podemos olhar só para a base e o topo, temos de olhar para todo o percurso. Em Portugal, temos um número bom de mulheres nas universidades, na base de carreira, mas temos uma percentagem muito mais baixa quando começamos a subir: há menos professores catedráticas, ainda menos reitoras e presidentes de politécnicos, ainda menos directoras de centros de investigação… Há ainda muito a fazer.

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