Press GRANDES ENTREVISTAS DE ENGENHARIA COM… MARIA DA GRAÇA CARVALHO

News | 04-01-2021 in Há Engenharia

É engenheira mecânica e considerada uma das dez eurodeputadas mais influentes na área do digital no Parlamento Europeu. Maria da Graça Carvalho é a primeira entrevistada de 2021 das Grandes Entrevistas de Engenharia da OERN.

Entrevista: Catarina Soutinho | Design: Melissa Costa

É professora Catedrática do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, deputada no Parlamento Europeu e, entre muitos outros cargos, foi também Ministra da Ciência e Ensino Superior e vice-presidente da Ordem dos Engenheiros.

A eurodeputada assume nesta entrevista que apesar de estarem a ser “ultrapassados os preconceitos históricos em relação ao papel das mulheres na Engenharia” Acrescentando no entanto que “a ideia de que as tecnologias digitais não são coisas de mulheres ainda está muito enraizada culturalmente”.

Conheça melhor a Engenharia portuguesa do Parlamento Europeu.

Para os mais jovens que vão ler esta entrevista, pode resumir-nos a sua atuação no Parlamento Europeu e as causas que tem defendido?

Nesta legislatura sou vice-coordenadora do grupo do Partido Popular Europeu na Comissão ITRE – Indústria, Investigação e Energia. Sou ainda membro efetivo da Comissão Especial Inteligência Artificial na Era Digital (AIDA), e suplente das comissões do Mercado Interno e Proteção dos Consumidores (IMCO) e Direitos das Mulheres e Mulheres e Igualdade dos Géneros (FEMM). As principais causas que elegi foram a Ciência e Inovação, Energia e Clima, Digitalização, Direitos dos Consumidores e Direitos das Mulheres. Tenho também sido bastante interventiva nos temas ligados à Indústria, sendo atualmente copresidente do Intergrupo dedica a este setor no Parlamento Europeu. As questões relacionadas com a COVID-19, sobretudo na perspetiva da investigação científica necessária para ultrapassar a pandemia, têm também sido uma das minhas prioridades ao longo deste ano.

Numa apreciação global, como vê o papel das mulheres na Engenharia?

Penso que, gradualmente, têm vindo a ser ultrapassados os preconceitos históricos em relação ao papel das mulheres na Engenharia. Em Portugal, muita coisa mudou desde que Maria Amélia Chaves se tornou na primeira engenheira portuguesa, ao formar-se em Engenharia Civil no IST, em 1937. Atualmente, no nosso país, o número de mulheres diplomadas nas diferentes engenharias é equivalente ao dos homens. Os nossos indicadores são melhores do que a média da União Europeia. Há ainda um problema nas engenharias ligadas às novas tecnologias e à Economia Digital. Esse é aliás um assunto que me tem merecido bastante atenção, sendo inclusivamente autora de um relatório propondo medidas para se ultrapassar o fosso de género no digital.

A engenheira Maria da Graça Carvalho foi considerada uma das eurodeputadas mais influentes. A que acha que deve isso?

Há uma máxima utilizada por escritores: “Escreve sobre o que conheces”. De uma certa forma, aplico o mesmo princípio na minha atuação no Parlamento Europeu, procurando concentrar os meus esforços em áreas que, até pela minha experiência profissional anterior, conheço bem. Quando percebemos os temas, e sabemos identificar os desafios específicos de determinados setores, estamos mais próximos de contribuir para que sejam tomadas medidas com impacto. Outra questão importante, que a minha experiência anterior no Parlamento Europeu e na Comissão Europeia me ensinou, é que devemos ser focados e persistentes nas nossas causas. Os deputados que “disparam” em todas as direções até podem conseguir algum tempo de antena, mas são menos reconhecidos pelos seus pares.

Que estereótipos ainda existem relativamente às mulheres na Engenharia? Como é possível combatê-los?

Como referi, ainda existe um problema ao nível das chamadas novas tecnologias. A ideia de que as tecnologias digitais não são coisas de mulheres ainda está muito enraizada culturalmente, refletindo-se a todos os níveis: desde as escolhas académicas das raparigas à recetividade que as diplomadas encontram no mercado de trabalho. Segundo o Eurostat, as mulheres representam apenas 17% dos inscritos em cursos das chamadas Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) na União Europeia. Este é um problema sério, porque priva muitas mulheres do acesso aos setores mais valorizados pelos empregadores e priva as economias de muito talento. A melhor forma de combater estes estereótipos é educando, tanto nos bancos de escola como nos meios de comunicação e nos organismos públicos. E educamos, entre outras coisas, pelo exemplo das mulheres que têm alcançado enorme sucesso nestas áreas.

O que se espera da nova geração de mulheres na Engenharia?

Espera-se que sejam protagonistas das muitas transformações nas quais os engenheiros serão chamados a participar, da chamada transição verde, para garantir a sustentabilidade do planeta, à digitalização. O mundo já está a mudar e as mulheres têm de ser parte ativa dessa mudança, sob pena de se eternizarem e até agravarem algumas formas de discriminação.

Num âmbito mais geral, quais acha serem as maiores oportunidades para os/as engenheiros/as nos próximos tempos?

O mundo está numa fase de grande transformação, com desafios como a transição verde e a digitalização, e os engenheiros terão um papel decisivo a desempenhar em várias áreas. Serão chamados a encontrar soluções para desafios específicos como a conceção sustentável das cidades e das infraestruturas em geral, a captura de carbono a uma escala industrial e a viabilidade económica das fontes de energia sustentáveis. Diria que os tempos que aí vêm serão muito interessantes e desafiantes para uma série de especialidades da Engenharia.

De que forma a Engenharia poderá ajudar na recuperação da economia no período pós-covid?

O Plano de Recuperação da União Europeia está intimamente ligado às questões que referi: o clima, com um peso muito importante da diversificação das fontes de energia e da eficiência energética; a transição industrial; a digitalização; a competitividade europeia face ao resto do mundo. Todos estes objetivos implicam uma forte componente de ciência e de inovação, que virão da investigação científica, mas também da aplicação dos conhecimentos teóricos a novas soluções. A Engenharia tem tido historicamente, desde os primórdios das civilizações humanas, um papel decisivo na conceção e aplicação de soluções inovadoras, capazes de nos ajudarem a ultrapassar enormes desafios e a dar saltos em frente.

A que tipo de programas, estágios e/ou oportunidades devem os jovens engenheiros estar atentos? Há programas em Bruxelas para jovens da Engenharia? Há oportunidades de emprego?

Existem sempre oportunidades de emprego na Europa. Na Alemanha, por exemplo, tendencialmente há ofertas de emprego na área, porque os diplomados do país não chegam para a procura. E a tendência será para surgirem novas oportunidades, neste e noutros países. Em termos de estágios e programas de formação, julgo que os interessados encontrarão as informações de que precisam junto das instituições do ensino superior. Existem ainda várias associações e entidades oficiais que acompanham e, em alguns casos, coordenam essas ofertas.

Há algum/a engenheiro/a cujo trabalho tem acompanhado e que lhe mereça referência?

Sempre tive uma grande admiração pela engenheira Maria de Lurdes Pintassilgo, pelo seu percurso profissional como engenheira e, principalmente, pela sua intervenção cívica e vida política. Foi um exemplo a vários níveis.

Na Ordem dos Engenheiros da Região Norte temos um slogan que é: “Há Engenharia em tudo o que há”. Concorda?

Concordo. E a prova é que, como referi, os engenheiros serão chamados a assumir um papel muito importante em todas as grandes transformações que esperamos implementar, do clima à a digitalização.

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