Press Libertar a Europa da energia russa

Opinion Articles | 02-03-2022 in Diário de Notícias

Escrever sobre uma crise enquanto a mesma se desenrola nunca é fácil. Sobretudo quando esta tem características tão imprevisíveis como a invasão da Ucrânia por Vladimir Putin. Esta terça-feira, ao mesmo tempo que o plenário do Parlamento Europeu realizava uma sessão extraordinária dedicada à agressão russa, na qual ouvimos do Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky um apelo corajoso e emotivo, as tropas enviadas por Moscovo intensificavam as hostilidades e apertavam o cerco a Kiev.

Não sei com que notícias teremos acordado na altura em que este artigo for publicado. Nem posso adivinhar as implicações que essas notícias terão no futuro. Mas há uma certeza que tenho, que todos temos, na altura em que escrevo estas linhas: a União Europeia não pode voltar a confiar na Rússia tão cedo e, sobretudo, como reforçaram a presidente do Parlamento Europeu e a presidente da Comissão Europeia, nas suas intervenções de ontem, tem de pôr termo imediato à sua atual dependência daquele país no gás e no petróleo.

A independência europeia ao nível das matérias-primas e componentes essenciais é um tema sobre o qual venho escrevendo e intervindo há muito tempo. Durante anos, numa lógica de custo-benefício de curto-prazo, abdicámos de produzir localmente, tornando-nos progressivamente mais sujeitos a fornecedores externos. Isto é válido para produtos de alta tecnologia, como os microprocessadores, e é válido para o setor da energia.

Estados-membros muito importantes, como a Polónia, a Alemanha e a Itália, têm dependido fortemente da Rússia para o seu abastecimento de gás. E, no seu conjunto, a União Europeia importa 40% do gás que consome daquele país. Portugal, refira-se, está neste aspeto numa posição bastante melhor, ainda que exposto pela atual falta de alternativas para compensar as intermitências de produção nas renováveis.

Mas os números da UE, que seriam negativos em qualquer circunstância, tornam-se insustentáveis quando nos apercebemos de que, com essas importações, temos estado na prática a financiar, não a economia de um país, mas um regime, cuja liderança nos tem dado repetidas provas de que nada respeitará enquanto tiver recursos para levar a sua agenda avante. Não é apenas a segurança energética da Europa que está aqui em causa. É a segurança física de todo o mundo livre.

As sanções económicas históricas de que a Rússia está a ser alvo são muito importantes. Mas igualmente importante, no médio e longo prazo, será garantir que a União Europeia não contribuirá, ao comprar a energia russa, para reforçar o seu poder e influência.

A questão que atualmente está na cabeça de todos os decisores políticos, aliás refletida na resolução ontem aprovada pelo Parlamento Europeu sobre a agressão russa na Ucrânia, é como fazê-lo com a rapidez necessária. Há um facto que não mudou e, que pelo contrário, saiu reforçado: nunca foi tão urgente apostar nas energias renováveis, ao mesmo tempo que se reforça o desenvolvimento de energias mais limpas que sejam, simultaneamente, acessíveis para os nossos cidadãos e empresas.

Mas é igualmente evidente que precisaremos de energias de transição, incluindo o gás, para concluirmos este processo sem agravar ainda mais as dificuldades já sentidas pelas nossas economias europeias. Por isso, teremos de reforçar as compras a outros fornecedores e de diversificar as vias de distribuição.

A interligação dos Pirenéus, projeto que permitiria reforçar a importação de gás para a Europa através da Península Ibérica, tem sido deixada de fora da lista de Projetos de Interesse Comum da UE. No Parlamento Europeu, em conjunto com os meus colegas de delegação, irei bater-me para que essa realidade se altere. Não apenas pelo interesse de Portugal, mas pelo interesse e segurança de todos os europeus.

 

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