Imprensa Preservar a memória, projetar o futuro

Artigos de Opinião | 14-02-2024 in Diário de Notícias

Princípio dos anos 1980. Aos atrasos estruturais, como a falta de saneamento básico na maioria das casas, o Portugal pós-25 de Abril soma problemas novos, resultantes de uma abertura ao mundo e à sociedade de consumo para a qual ainda não estava equipado, como as lixeiras a céu aberto e as descargas domésticas e industriais para os rios e outros cursos de água. A bordo de uma carrinha Peugeot que, já na época, é demasiado velha para essas funções, com um projetor Super 8 na bagageira, o engenheiro Carlos Pimenta dedica os fins-de-semana a percorrer as terrinhas do país a espalhar a mensagem da proteção ambiental.

Este é apenas um dos muitos episódios recordados no livro “40 anos de História – Instituto Francisco Sá Carneiro [IFSC]”, da autoria da jornalista Joana Reis, que será apresentado nesta quinta-feira em Lisboa.

Ali se descreve como o IFSC, inicialmente batizado de Instituto Progresso e Social Democracia, se dedicou de forma intensa e apaixonada, desde os seus primeiros tempos, a trabalhar para consolidar e projetar no futuro a então ainda jovem e frágil democracia Portuguesa. As múltiplas ações de formação política que desde logo promoveu. Os temas que lançou para o debate e análise, envolvendo todos os setores da sociedade civil.

O ambiente foi um caso, e vale a pena recordar o papel decisivo que o Instituto teve na discussão sobre o nuclear em Portugal e na formação do Grupo de Estudos do Ordenamento do território e do Ambiente, para além das inúmeras ações de formação e sensibilização que promoveu por todo o país. Mas há muitos outros exemplos bem documentados nesta obra, tais como os preparativos da adesão à então CEE, que envolveram, só em 1984, um total de 122 ações distintas.

Esta é também uma obra recheada de protagonistas, desde nomes maiores da política internacional, como Simone Veil, John Kerry e Mariano Rajoy, às principais figuras nacionais. Sá Carneiro, naturalmente, como referência e farol ideológico de uma instituição, mas também Francisco Pinto Balsemão, Gonçalo Ribeiro Telles, Mário Soares e Adriano Moreira, entre tantos outros. 

Um livro em que não são omitidos os episódios politicamente mais sensíveis, tais como o caso Ribafria, envolvendo a quinta onde esteve sediado o instituto e um advogado muito conhecido da nossa praça, que viria a dirigir um dos grandes clubes portugueses de futebol.

Uma narrativa que, enfim, chega aos tempos de hoje, com um Instituto Francisco Sá Carneiro rejuvenescido, com atividades alargadas a todas as regiões do país e um conjunto de parcerias internacionais que reforçam a sua escala e autonomia, mas que ao mesmo tempo procura manter-se fiel à memória e ao legado do político que lhe deu o nome.

Em pouco mais de cem páginas, sintetizar quatro décadas de história, conseguindo entrelaçar tantos episódios e personagens, não é tarefa fácil, mas a autora cumpriu-a com distinção. Bem sei que serei suspeita, na qualidade de presidente do IFSC, mas recomendo vivamente esta obra.

Esta não é “apenas” a história do Instituto, mas um relato que se confunde com a história de Portugal e do mundo ao longo das últimas décadas. E que, por isso mesmo, merece ser lido por todos, desde aqueles que se dedicam ao estudo da nossa democracia aos jovens que não viveram os tempos que nos conduziram até ao país que hoje somos. E é também a história de um Portugal, idealizado por Francisco Sá Carneiro, mais próspero, mais justo e mais solidário. Um Portugal que ainda não temos, mas pelo qual nos continuamos a bater.

 

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